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domingo, 12 de fevereiro de 2012

A SIMBOLOGIA NOS LIVROS BÍBLICOS

Interessante como a simbologia é fartamente utilizada nas escrituras. De acordo com Emmanuel no livro "O Consolador", questão 267
P: Qual a posição do Velho Testamento no quadro de valores da educação religiosa do homem?
R: No quadro de valores da educação religiosa, na civilização cristã, o Velho Testamento, apesar de suas expressões altamente simbólicas (grifei), poucas vezes acessíveis ao raciocínio comum, deve ser considerado como a pedra angular, ou como a fontemáter da revelação divina.

Ainda Emmanuel,  em seu livro “A Caminho da Luz”, na página 67, faz referência ao Judaísmo e ao Cristianismo.
Vamos relfetir: “Estudando-se a trajetória do povo israelita, verifica-se que o Antigo Testamento é um repositório de conhecimentos secretos, dos iniciados do povo judeu, e que somente os grandes mestres deste povo   poderiam interpretá-lo fielmente, nas épocas mais remotas.(grifei)
Eminentes espiritualistas franceses, nestes últimos tempos, procuraram penetrar os seus obscuros segredos e, todavia, aproximando-se da realidade com referência às interpretações, não lhes foi possível solucionar os vastos problemas que as suas expressões oferecem.
Os livros dos profetas israelitas estão saturados de palavras enigmáticas e simbólicas, constituindo um monumento parcialmente decifrado da ciência secreta dos hebreus. Contudo, e não obstante a sua feição esfingética, é no conjunto um poema de eternas claridades. Seus cânticos de amor e de esperança atravessam as eras com o mesmo sabor indestrutível de crença e de beleza. É por isso que,  a par do evangelho, está o Velho Testamento tocado de clarões imortais, ( grifos nossos) para a visão espiritual de todos os corações. Uma perfeita conexão reúne as duas leis, que representam duas etapas diferentes do progresso humano. Moisés, com a expressão rude de sua palavra primitiva, recebe do mundo espiritual as leis básicas do Sinai, construindo deste modo o grande alicerce do aperfeiçoamento moral do mundo; e Jesus, no Tabor, ensina a humanidade a desferir, das sombras da terra, o seu vôo divino para as luzes do céu”.

Chamou-nos a atenção em nossos estudos a presença da simbologia numérica. O 3 simboliza a manifestação, o 4 é o número da Terra. O número 7, para os judeus, é a perfeição. O número 6, simboliza o homem (que foi criado no 6º dia). E ainda: “Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.” (Apocalipse 13.18). Já o número 8 significa novo começo. Vejam este trecho encontrado no estudo de José Mário Galdino da Silva, AS NARRATIVAS DA CRIAÇÃO EM GÊNESIS UM E DOIS: UMA LEITURA A PARTIR DO GÊNERO LITERÁRIO:
2. Os símbolos de Gênesis 1 e 2 em paralelo com a o mundo antigo
Água – na mitologia egípcia, Num é o elemento aquático e inerte de que surge a terra. Na epopéia babilônica da criação, o monstro Tiamat o dragão do caos (= água original) foi superado por Marduc que fez do seu corpo o céu e a terra. Na cultura grega Tales, filósofo da natureza ensinava que tudo que é vivo saiu da água. No Egito antigo a água era associada com a idéia de revivificação. Segundo criam, a água proveio de Osíris. A água livraria da rigidez da morte. Acreditavam eles que na água achavam-se juntas e bem próximas a vida e a morte. Na Babilônia Ishtar desceu ao mundo dos mortos, a fim de colher a água da vida.
Jardim ou paraíso – símbolo representativo da vida, antítese da morte. Sob o prisma históricosalvífico representa o lugar para onde vão os filhos de Deus. Representa a união do homem com Deus. O fim do sofrimento. Felicidade plena e definitiva. Também representa fertilidade, vida e fartura. Jesus referindo-se ao ladrão na cruz disse: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso” (Lc 23:43). O apóstolo Paulo também se referiu ao paraíso dizendo: “foi arrebatado ao paraíso e ouviu coisas indizíveis, coisas que ao homem não é permitido falar” (2 Co 12:4). Em Apocalipse, João também reconhece o valor do paraíso: “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus” (Ap 2:7).
Árvore – símbolo de divindade. Portadora de frutos, convertia-se em revelação de vida. Principalmente para aqueles que viviam no deserto. As árvores ultrapassavam em muito todos os seres além de ter a singularidade de ligar a terra com o céu. Algumas culturas antigas às sombras das árvores faziam sacrifícios e buscavam oráculos. Dessa forma a árvores eram consideradas um referencial para o culto, era um lugar santo. Para os sumérios Dumuzi (tamuz) era considerado o deus da vegetação era tido como o a árvore da vida. Os egípcios adoravam a deusa Hator “na forma de árvore dava alimento e vida ao morador da sepultura ou à ave de sua alma” (dic. dos símbolos p. 16). Na mitologia grega havia o jardim das hespéridas. Segundo o mito, nesse jardim havia árvores que davam maçãs de ouro. Essas maçãs outorgava imortalidade aos deuses. Havia o carvalho santo de Dodona e de seu rumurejar acreditava-se ouvir a voz de Zeus. 

Luz – representa a espiritualidade de Deus. Dar a luz tem o sentido de dar a vida. Jesus é apresentado no Novo Testamento como “a Luz do mundo” (ver Lc 2:30-32; Jo 1:9; 8:12; 12:36; 1 Tm 6:16). Luz está associada com divindade, céu, e se opõe às trevas. Na cultura babilônica antiga, Marduc é o herói da luz contra as trevas. Também pode está associada à felicidade, bem estar e sabedoria. “Envolto em luz como numa veste, ele estende os céus como uma tenda” (Sl 104, 2); “Faze, ó SENHOR, resplandecer sobre nós a luz do teu rosto!” (Sl 4:6b); “A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu
caminho” (119:105;)
O número sete – esse número é especial para os judeus. Ele remete à idéia de perfeição, completude. Os deuses sírios Baal e Mot se revezavam e cada um regia sete anos. O primeiro versículo de No Princípio Elohîms os céus e a terra, conta sete palavras em hebraico: bereshit bara Elohîms Et hashamaîms veét haarès. A sinfonia do Gênesis se abre por uma das frases mais revolucionária que se possam conceber, sete palavras que proclamam de fato o declínio das divindades adoradas pelas nações da terra e relativizam o universo dos homens, pois ele é criado e não eterno como se supunha então. A ideia de criação põe em discussão não somente os cultos e as culturas da humanidade, mas também os regimes políticos que fundamentavam sua legitimidade em divindades das quais a mensagem bíblica proclama a queda. No Princípio é verdadeiramente um texto sinfônico. Ele é construído, do início ao fim, sobre o ritmo de 7. O primeiro versículo deste volume conta, volto a dizer, 7 palavras em hebreu, e o segundo 7 x 2 = 14. O relato da criação conta 7 x 8 = 56 a partir da criação dos astros em 2 grupos de 3 dias que desembocam no 7º dia, no repouso de elohîms:
0 Desordem e deserto das trevas 1:2
1 Luz 1:3-5
2 Céus e águas 1:6-8
3 Terra e vida orgânica 1:9-13
4 Astros 1:14-19
5 Peixes e aves 1:20-23
6 Animais e humanos 1:24-31
7 O Shabat ou repouso de Elohîms 2:1-3
As correspondências são perfeitas entre a luz (1º dia) e o repouso de elohîms (7º dia); entre os céus e as águas (2º dia) e a criação dos peixes e das aves (5º dia); entre a criação da terra e da vida orgânica (3º dia) e a dos animais e dos humanos (6º dia). No centro se erguem os astros, a meio caminho entre os céus, habitados por elohîms, e a terra, morada dos humanos, enquanto a correspondência quiasmática é perfeita entre os três primeiros e os três últimos dias da criação. Assim, a narrativa constitui um todo perfeito de harmonias secretas, de correspondência múltiplas entre as palavras, mesmo as letras, e as realidades descritas. A unidade do volume se revela incontestavelmente através de uma análise  escrupulosa de suas estruturas internas. A importância dada aos números (e aqui ao algarismo 7), geralmente ignorada pela crítica porque estranha à psicologia moderna, é característica do estilo bíblico (CHOURAQUI, 1995, p. 19).
As fases da lua duram sete dias. As cores do arco-íris são sete; os templos babilônicos tinham sete patamares. Ishtar portava sete véus.
Número quatro – na Bíblia, o rio que nasce no Jardim do Éden divide-se em quatro braços (Gn 2:10; ver Ez 1:4-14) fala das imagens da atividade de Deus, que se volta para todas as direções, são quatro. Para o nome sagrado de Deus há 4 letras hebraicas formando o tetragrama sagrado ou divino. Quatro também é o símbolo da totalidade cósmica. São quatro: as direções do céu; ventos do céu (Dn 11:4); Mt 24:31; Mc 13:27; Ap 4:6); quatro são as estações do ano. Os quatro elementos enfatizados pelos gregos, terra, água, fogo e ar. Os pares de deuses na doutrina egípcia de Hermópolis que dominavam antes do surgimento do universo são quatro. Os pontos cardiais são quatro. Hesíodo classificava as idades cronológicas em quatro. Esse número simboliza a soberania divina sobre o terreno. O escultor grego Fídias, colocava aos pés de suas esculturas de Zeus, quatro deusas da vitória como símbolo do domínio sobre o mundo material.
Mão – nas línguas semíticas a palavra que designa “mão” é a mesma para “poder”. (Dic. dos símbolos?). O deus egípcio Aton é representado por um sol, cujos braços terminam em forma de mão, segurando o laço da vida. A Bíblia entre os vários textos relacionados ao antropomorfismo alguns se referem especificamente pela mão de Deus. Mãos de Deus poderoso que age e supre, Davi rejeita cair nas mãos do Deus vivo (Sl 104:28). Deus livra os hebreus das mãos dos egípcios com sua mão poderosa, libertadora (Êx 3:8). (ver 2 Sm 24:14; Sl 21:19; 32:4; Jó 12:7-10; Is 12:7-10; Ez 2:9; Dn 5:5-24; Lc 1:20; Jo 20:28; 1 Pe 5:6; Lc 23:46).
Mar – expressão simbólica do mundo caótico para algumas civilizações antigas como a acadiana por exemplo. Para os egípcios as águas originais eram inertes formando o caos. Os sumérios adoravam Ea como o deus das profundezas e dos segredos das águas. Esse deus assim como mar era insondável.
Dia e noite – essas duas palavras correspondem à luz e as trevas. Assim como o dia está relacionado à alegria e à vida, a noite está relacionada com a tristeza e com a morte. “o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria.” (Sl 30:5b). (ver Jó 36:20; Êx 12:29, 42; Sl 95:5ss; Zc 1:7, 6-8; 14:7; Is 26:9; Rm 13:12; 1 Ts 5:5; Jo 9:4; 11:10; Mt 25:6; Ap 21:25; 22:5).
Trevas – tanto no Egito antigo como na mesopotâmia, as trevas representavam o caótico, o pré-formal do estado anterior à criação. Na escuridão encontram-se as forças inimigas dos deuses e dos homens. Trevas está relacionada com a noite e a luz com o dia.
Oleiro – no Egito Cnum era adorado como o criador do homem. Teria ele formado o corpo de uma criança em um prato de barro e o faz chegar como semente ao corpo da mulher. Na mesopotâmia antiga a origem do homem se deu a partir de uma mistura de barro com sangue de um deus oferecido em sacrifício. Na mitologia grega o gênero humano foi criado por Prometeus a partir de uma mistura de barro e água. (ver Gn 2:7; Sl 2:9; Jr 18:1-4; Is 45:9; 29:16; 64:8; Rm 9:21; 2 Co 4:7; Ap 2:27; Is 41:25).
Plantas – é importante para muitas culturas como símbolo religioso. Em Gênesis Deus é o primeiro jardineiro (ver Is 28:24-26). André Chouraqui afirma que:  Escultor grego (490 a.C.-430 a.C.). Considerado o maior escultor grego do período clássico, é o criador do Parthenon e das estátuas dos deuses gregos. Não é mais possível ler em nossos dias o Gênesis sem ter presentes ao espírito as civilizações no meio das quais emerge o fato hebraico. Cada ano acrescenta a esse dossiê novas descobertas que obrigam os historiadores e os exegetas a uma reconsideração permanente de suas conclusões (p. 16).
 

Interessante, não? E imaginem os erros que cometemos ao interpretar o texto ao pé da letra, com nosso raciocínio ocidental, greco-romano, sem levar em consideração a época em que foi escrito! Continuando...


Os livros também seguem gêneros literários, que devem ser apreciados para que o entendimento seja maior. Por exempolo o 1º livro da Bíblia, o Gênesis, que tem como título original Bereshit - no princípio, é composto de versos que são cantados em hebraico, ou seja têm musicalidade, métrica e rima na língua original. Analisando essa obra literária percebemos que há maestria em sua composição. Notamos também que não é uma composição simples, pelo contrário, ela é muito bem elaborada. Há uma intenção explícita do autor em registrar esse relato da criação com uma obra prima. Mostra-se imponente, majestoso e singular. Há um ritmo. Lendo como se lê uma narrativa talvez o leitor não consiga ver a beleza que há, mas lendo como se ler uma poesia pode-se perceber que realmente é assim que se deve ler Gênesis capítulo primeiro.No decorrer do livro ainda encontramos lendas, genealogias, sagas ou histórias antigas e linguagem mítica.

Vale a pena ler e tentar compreender, não é verdade?


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