Iniciamos a história de José em nossos estudos da Bíblia.
É uma história muito rica em simbologias e em ensinamentos para nosso crescimento espiritual.
José tem sua história narrada
nos últimos capítulos do Gênesis, sendo mostrado como o filho predileto de Jacó, patriarca de Israel, e de
Raquel. Por causa disso, seus invejosos irmãos venderam-no
como escravo e disseram ao pai que ele havia morrido. Comprado posteriormente
por Putifar, chefe da guarda do faraó do Egito, logo conquistou
a confiança do amo por causa de sua inteligência. Acusado
injustamente de tentativa de sedução pela mulher de Putifar
acabou preso, porém no cárcere, ficou conhecido por sua habilidade
na interpretação de sonhos e, quando o faraó sonhou
com acontecimentos que os sacerdotes não conseguiram explicar, mandou
que o levassem ao palácio. Depois de ouvir o relato dos sonhos
do soberano, fez a divina previsão de que a região experimentaria
sete anos de grande prosperidade, aos quais se seguiria igual período
de seca e fome e aconselhou então ao faraó que, ao longo
do primeiro período, os sete anos de prosperidade, armazenasse alimentos
para os anos de penúria. Impressionado com a sabedoria do jovem,
o faraó nomeou-o administrador do palácio. Nos anos de escassez,
entre os flagelados que se refugiaram no Egito estavam seus irmãos,
que os perdoou e trouxe seu pai, Jacó, e toda a família
para morar com ele, no Egito, onde permaneceu até a morte. Antes
de morrer, fez a última previsão para a sua família:
que Deus os levaria para a terra que prometera dar a Abraão,
Isaac e Jacó. Com sua morte termina o livro bíblico
do Gênesis. Seus filhos Manassés e Efraim deram
nome a duas tribos de Israel.
Eis aí um resumo muito suscinto da história.
Vamos agora nos deter especialmente no capítulo 39 - José em casa de Potifar (ou Putifar). José é levado ao Egito, onde o eunuco do Faraó (Potifar) o compra dos ismaelitas. De acordo com estudos esotéricos, José simboliza o intelecto concreto, o pesquisador que começa a buscar a Luz no caminho, bem equipado com os conhecimentos mundanos. Na língua hebraica, José quer dizer "ele há de crescer progressivamente". Tudo prosperava na casa de Potifar. José cuidava de tudo e Potifar só sabia "do pão que comia"(v. 6).O pão é o alimento para o corpo, o materialismo. José é elevado ao posto de mordomo Gênesis (39.4), "de modo que o fez mordomo da sua casa, e entregou na sua mão tudo o que tinha".
O que significava ser mordomo na cultura hebraica? Temos outros exemplos na Bíblia, de mordomos, entre esses o do Eunuco, o
alto oficial etíope, (Atos 8.27), a quem Filipe pregou o evangelho. Ele é
chamado de mordomo principal da rainha da Etiópia. Veja a extensão de suas responsabilidades no próprio verso: ele "era superintendente de todos os seus tesouros". Ser mordomo, portanto, é algo muito importante. A palavra, no original grego, significa literalmente - "aquele que coloca a lei na casa", ou o que administra a casa de acordo com a lei. Podemos concluir que a mensagem da Bíblia nos diz somos todos também mordomos de Deus, Deus é Criador de tudo e nos tem dado essa
responsabilidade. Somos responsáveis diante dele por tudo o que ele tem
colocado em nossas mãos. Nossa conduta deve refletir nosso compromisso cm a mordomia.
Continuando, a mordomia é um cargo de grande responsabilidade, demonstrando que José pairava acima de Potifar, embora estivesse na condição de escravo. Ser cativo no Egito, para os judeus, significa um estado de obscuridade e tribulação. É estar desviado do caminho pelas negras forças do orgulho e do egoísmo. Eram essas as condições em que se encontrava José: embora em grande tribulação, em luta para ascender na evolução, ainda estava acima de seu "senhor" Potifar (que significa"dedicado ao sol" ou "que pertence ao sol")
A mulher de Potifar, vendo que José era "belo de forma e de aparência" começa a tentá-lo. Podemos interpretar como as tentações sentimentais, simbolizadas pela mulher, que são muito difíceis de serem superadas pelo espírito em evolução. Ainda pode ser a tentação da vaidade, dos apelos sexuais, dos vícios. Mas José recusa firmemente (vontade de superar).
Os vestidos de José - interessante como a vida desse personagem/arquétipo é marcada por episódios em que suas vestes estão envolvidas. O homem judeu só se considerava vestido quando usava duas vestimentas: a túnica e a capa. Se estivesse com apenas uma era considerado que estivesse nu. Segundo o midrash Rabbah (retirado do site http://pt.scribd.com/doc/60200580/30/III-3-7-A-A-questao-das-vestes-de-Jose): "Analisando com mais calma os elementos citados então teremos. A veste é o símbolo de um amor superior de Jacó por José, ao mesmo tempo que causa divisão entre os irmãos também é a fonte dos males que José iria sofrer. A veste, de muitas cores, era algo raro, especialmente para um povo que vivia como pastor, em uma terra distante dos grandes centros urbanos da época, era portanto um luxo. Nenhum dos outros irmãos recebe uma veste especial, na verdade em todo o gênesis este é o único momento em que há um adjetivo especial para uma roupa de alguém. Esta roupa especial dada como prova de um amor maior do que aos outros certamente traria a José a ideia de que ele era especial, mas junto com essa ideia recairia sobre ele o orgulho. Certamente a ideia de orgulho não aparece de forma literal na torá."
"A própria Torá deixa transparecer a idéia de um José orgulhoso, especialmente no contato com os seus irmãos. Onde, ao invés de se revelar de imediato ele cria todo um espetáculo de prisões e solturas, falsos roubos e falsas acusações, até que em fim seu coração seja quebrantado e um imenso choro e por fim revela-se.Seja como for, a veste multi-colorida como símbolo do orgulho de José parece bem aceitável. Entretanto o desdobrar de tal idéia não é pequeno. Se realmente o orgulho de José seria o principal causador de problemas durante a sua vida, tanto a inveja causada entre os irmãos, como a tentação de Zuleica, esposa de Putifar, como a tentação de não se revelar aos seus irmãos, entre tantas outras, então, de alguma forma, o orgulho deveria ser arrancado de José para que este pudesse cumprir os desígnios de Deus. Assim sendo antes de José ser jogado no poço suas vestes lhe são arrancadas.
"Assim, quando José chegou junto deles, despojaram-no de sua túnica,
a túnica adornada que ele vestia,
arremessaram-se contra ele e o lançaram na cisterna; era uma cisterna vazia, onde não havia água". No Midrash Rabbah Bereshit Rabbah 84, 16, aparece apenas uma discussão sobre quem seria aquele que teria tirado a túnica de José, chegando à conclusão de que somente poderia ter sido Simeão, a questão da escolha de Simeão está melhor explicada no capítulo específico sobre Simeão e Manasses. Mas uma vez que a veste de José pode ser interpretada como símbolo de seu orgulho, a retirada de sua túnica seria então o despir-se de tal orgulho. E é justamente o que vai acontecer com José a partir deste determinado momento,uma vez que nu será jogado no poço, onde ficará por algum tempo até que por fim seja vendido como escravo, sem dúvida o status mais desqualificado de qualquer orgulho que pode ser imaginado. E assim, como escravo, e não como filho preferido vestindo uma túnica multicolorida é que chegará ao Egito. O episódio de José sendo jogado no poço, por sua vez, apresenta uma ampla discussão midráshica. Especialmente pelo texto da torá apresentar aqui um elemento estranho."era uma cisterna vazia, onde não havia água" Ora, se era uma cisterna vazia, obviamente não poderia haver água. Então qual o motivo da dupla colocação na torá. Por que motivo, Deus, autor da torá, iria se repetir? Como já vimos nos capítulos introdutórios isso irá criar uma demanda de esforço dos rabinos para explicar a possível repetição."Havia na verdade dois poços. Realmente não havi água neles, mas um com cobras e serpentes, outro cheio de pedras . Mas o R´Aha interpreta ainda: E o poço estava vazio, logo o poço de Jacó havia sido esvaziado. Não havia água nele, na verdade isso significa que não haviaensinamentos da torá naquele que não havia água, pois os ensinamentos da Torá são como água, enquanto você lê asua sede é satisfeita." Sendo assim, segundo a tradição rabínica haveriam dois poços. Um onde simplesmente não havia água, mas estaria, portanto, repleto de escorpiões e cobras, o outro que realmente estaria vazio. José foi jogado no poço vazio. Desta forma ele pôde sobreviver a ser vendido como escravo ao Egito. A idéia da venda de José, então, já preparada por Deus, não era faze-lo sofrer e nem destruir a sua vida como punição de seu orgulho, mas apenas arrumar uma forma de faze-lo se despir de tal. Assim sendo ele é jogado no poço seguro. Mais do que isso, o outro poço, onde simplesmente não havia água, seria o poço onde não habitaria a torá que sacia. Ou seja, José nunca está desamparado de Deus e de sua Lei, mas ao contrário está sob sua proteção, o que é representado no momento em que os rabinos dão como certeza que o povo que estava vazio, só estava assim pois havia sido esvaziado. Aqui não importa quem o teria esvaziado, Jacó, os irmãos ou o próprio Deus, mas que esta não era a condição inicial dele, e apenas assim ficou para receber José, desnudo de seu orgulho, mas sem qualquer perigo contra a sua vida. Após a venda de José, já desprovido de seu orgulho, as vestes continuam presentes em Gênesis 37, mesmo quando o seu antigo dono não está mais sendo mencionado. Após a venda eles degolaram um bode e mergulharam no sangue a túnica de José para apresentar à Jacó, justificando seu desaparecimento. A túnica, enquanto símbolo do orgulho de José ainda teria de ser morta. Isso é feito de forma simbólica quando a túnica é imersa no sangue do bode e então entregue ao seu pai, Jacó. O choro em desespero de Jacó em imaginar a morte de seu filho, embora ele veja apenas a túnica adornada que ele mesmo havia dado, símbolo de seu amor superior a José em detrimento ao dos demais filhos. NoMidrash Rabbah
aparece ainda uma tentativa de explicar que Jacó não teria sido enganado, e quando ele fala que uma besta selvagem havia devorado José, isso na verdade era uma profecia com relação ao que aconteceria quando a mulher de Putifar o atacasse.
"Mas Iahweh assistiu José, estendeu sobre a sua bondade e lhe fez encontrar graça aos olhos do carcereiro chefe"214
E é justamente depois desta segunda recusa de seu manto de orgulho é que José estava pronto para realizar o que deveria ser realizado, chegar até o Faraó e trazer o povo de Deus para o Egito, onde ficariam seguros na fome que se abateria sobre toda a região".
QUE POSSAMOS, COMO JOSÉ, NOS DESPIR DAS VESTES DO ORGULHO PARA QUE NOSSA FOME ESPIRITUAL SEJA SACIADA!